Falar sobre E Tudo o Ventou Levou é falar sobre um dos grandes clássicos da literatura mundial. Quando pensamos neste livro, a maioria pensa no filme de 1939, protagonizado por Vivien Leigh e por Clark Gable e imediatamente associa o livro e o filme à história de amor entre os dois. Uma história atribulada, plena de emoção, cheia de altos e baixos e onde o melhor e o pior de ambos vem ao de cima. Contudo E Tudo o Vento Levou é muito mais do que isso, se fosse só a historia de amor entre dois grandes personagens não teria chegado ao estatuto de clássico. Possivelmente, o filme era hoje um entre muitos que as pessoas sabem que se fizeram mas nunca faria parte do currículo dos actores envolvidos.
A história é uma historia do velho Sul da América, onde o tempo passava devagar, onde os ricos eram muito ricos e os pobres eram quase inexistentes. As grandes plantações de algodão dominavam o horizonte. O Sul era uma comunidade fechada, onde as regras eram para ser cumpridas. As mães educavam as filhas para o casamento e os filhos para dirigirem a plantação. No fundo, bem vistas as coisas era um sistema.
O livro é rico em detalhes sobre a vida sulista, os costumes e tradições são explicados e muitas vezes criticados.
Quando o livro começa conhecemos Scarlett O'Hara, uma beldade do sul, com apenas dezasseis anos, ela só pensa em ir a bailes, ter muitos pretendentes e conquistar Ashley Wilkes. Todos os seus planos de conquistá-lo, talvez surtissem efeito se não fosse pelo facto de ele estar comprometido com Melanie, a sua prima e claro que o começar da Guerra Civil também impede Scarlett de conquistar o seu amor.
Este podia ser o resumo resumido de um qualquer livro da Harlequin. Mas não é. Mitchell através da sua escrita e dos personagens que criou dá-nos um fresco do sul, antes, durante e depois da Guerra, percebemos o quão sangrenta e devastadora esta guerra foi e como marcou a vida dos sulistas.
Os Sulistas são diferentes dos Nortistas pois parecem viver agarrados a um passado aristocrata e que rapidamente perde importância durante a guerra e depois dela. Os ensinamentos dos pais de pouco servem num mundo selvagem que se torna o sul no pós guerra.
Um livro até pode ter uma boa história mas nada é sem personagens minimamente cativantes, e todas as personagens deste livro o são, umas mais que outras. Melanie, o poço infinito de bondade, Ashley o cavalheiro mais cavalheiro do mundo, as velhas maldosas e cheias de fel, a Tia Pitty com os seus chiliques, Babá, sempre dividida entre o dever, o que é correcto e o seu afecto por Scarlett, Rhett, um bom sacana com bom coração e Scarlett.
Sobre Scarlett podia escrever uma dissertação, ela consegue despertar o ódio em mim, consegue também despertar uma imensa admiração pela sua coragem e determinação e por nunca se dar por vencida.
E tudo o vento levou é sem dúvida um dos meus livros preferidos, já o tinha lido há alguns anos e isto foi uma releitura. Mas o meu entusiasmo foi igual, as dúvidas, as incertezas, as angustias que sempre acompanham uma primeira leitura estavam lá. Por isso aconselho este livro a todos. Se já viram o filme, vão com certeza descobrir uma história mais rica, com mais detalhes. Se nunca viram ou leram preparem-se para ser arrebatados.