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Out 13

Menos conhecidos e lidos estes livros são também na minha opinião obras inferiores ao famoso Jane Eyre.

 

Não quero com isto dizer que não tenha gostado, apenas que não os achei tão bons como Jane Eyre. De um ponto de vista mais literário é uma situação curiosa já que uma boa parte dos escritores só dá ao mundo uma obra-prima quando já escreveu alguns livros. Claro que isto não é uma ciência e muitos conseguem manter o mesmo nível, outros melhoram e outros regridem.

Mas mesmo não sendo tão bons não estamos perante livros intragaveis ou cuja leitura eu não recomendo.

Começando por Vilette, Charlotte Brontë apresenta-nos mais uma vez uma heroína órfã, sem recursos financeiros que a vida e talvez a coragem empurra para uma cidade estrangeira fictícia chamada Vilette. Sozinha no mundo Lucy Snow tem de enfrentar as mais diversas adversidades.

Fala-se muito do suposto carácter biográfico de Jane Eyre mas eu achei este livro mais biográfico. A solidão da personagem, a sua condição de estrangeira, a sua religião protestante num país católico, a vida de professora. Na minha interpretação dos factos biográficos penso que Monseiur Paul, o herói do livro, terá sido inspirado no professor por quem Charlotte teve uma grande paixão. Esta personagem criou em mim algumas contradições por um lado não acho uma personagem fácil de se gostar e por outro acho que se o verdadeiro professor for mesmo como ele não percebo o que ela via nele. Monseiur Paul não é mau no sentido de fazer maldades ao longo do livro, mas tem uma personalidade deveras dificil.

 

A verdade é que este livro é bem mais complexo do que Shirley que me fez lembrar um pouco os romances que todos gostamos de ler mas aos quais falta sempre profundidade. Talvez Charlotte precisasse de escrever algo mais leve. Mas desenganem-se e não pensem que este é o típico romance cor de rosa.

Em Shirley temos duas protagonistas diferentes entre si e diferentes na sua maneira de ver o mundo e lidar com ele. Shirley é uma mulher rica que dirige os seus negócios e Caroline a sobrinha do pastor da paróquia, que foi educada por ele. Apesar de diferentes elas reconhecem uma na noutra certas características que as distinguem das outras mulheres e as aproximam.

O livro fala ainda do problema das máquinas começarem a roubar postos de trabalho e a revolta dos trabalhadores contra estas mesmas máquinas. Encontramos em Robert Moore, dono de uma fábrica, um homem preocupado com os seus negócios e com os trabalhadores que se vê obrigado a dispensar.

Os problemas de Robert Moore e a sua relação com Caroline fazem lembrar North and South de Elizabeth Gaskell. Não sei se Elizabeth Gaskell não terá se inspirado neste livro da sua amiga Charlotte para escrever o seu livro.

 

Para terminar gostaria de acrescentar que ambos os livros têm algumas coincidências rebuscadas que parecem ser um dos atributos da escrita de Charlotte Brontë. Apesar das coincidências acontecerem na vida real, algumas delas são um fardo para a narrativa e se não existissem só beneficiavam a história.

Charlotte Brontë parece ter só conseguido fazer um grande livro, mas é inegavelmente uma escritora dotada, que dá ao leitor diálogos poderosos, situações complicadas que parecem não ter solução e muitas horas de boa leitura.  

publicado por Vera às 14:14

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