E se alguém entrasse numa livraria e quisesse falar com Charlotte Brontë porque não gostou de Jane Eyre?
E se alguém entrasse numa livraria e quisesse falar com Charlotte Brontë porque não gostou de Jane Eyre?
Eu sei que já devia ter colocado aqui mais umas opiniões sobre as adaptações de Jane Eyre, mas outros afazeres se intrometeram e ainda não consegui. Entretanto descobri mais uma adaptação e coloco aqui o clip para verem.
Não é uma verdadeira adaptação é apenas uma pequena paródia feita pelo Saturday Night Live, mas o Jude Law até dava um Rochester decente, só precisava de pintar o cabelo :)
Jane Eyre de Charlotte Bronte é possivelmente uma das grandes histórias da literatura britânica clássica que mais aprecio. Isso é indubitável desde há algum tempo a esta parte. Ler a obra é um prazer e é inevitável não me condoer com a jovem Jane Eyre ou então com o coração terrivelmente amargurado de Edward Rochester e com o estranho mas profundo sentimento que nasce entre estes dois seres.
No que respeita às adaptações televisivas ou cinematográficas, confesso que adoro as duas últimas realizadas. A televisiva (série) de 2006 com Toby Stephens e Ruth Wilson é maravilhosa e a mais fiel à obra original; a cinematográfica de 2011 é igualmente bela apesar de mais curta. Pessoalmente, e atendendo à que mais rápido me toca o coração, gosto da última. Acho a Jane Eyre da Mia Wasikowska muito boa, tendo ela um ar mesmo 'plain, obscure and little'. Já Michael Fassbender, que apesar de charmoso não acho bonito (e é assim que imagino o Edward Rochester da obra original), faz um Mr Rochester perfeito, deixando transparecer nas feições a tortura e a amargura de um homem que se crê já perdido para o mundo e para a felicidade.
Não vi mais nenhuma adaptação de Jane Eyre, que me lembre. Em criança, consolei-me de ver filmes antigos com a minha mãe aos sábados e domingos à tarde (RTP1, claro) e é muito provável que tenha visto adaptações de alguns dos clássicos que hoje adoro. Sei que vi a versão com o William Hurt como Rochester há muito tempo atrás mas, nessa altura, ainda não conhecia a obra nem a sua autora; lembro-me, no entanto, que fiquei apaixonada pela história e recordei durante muito tempo aquele final debaixo de frondosas árvores. Actualmente, tenho as adaptações quase todas (falta-me a de 1936) de Jane Eyre e hoje, finalmente, lá me decidi a ver a de 1943 com o Orson Wells e a Joan Fontaine. Pois foram quase duas horas agradáveis, ao contrário do que tinha imaginado. Apesar da excessiva mas usual teatrialidade dos actores, principalmente do Orson Wells, vê-se muito bem. É uma pena, contudo, que a obra original tenha sido tremendamente adulterada.
De acordo com a Wikipédia, esta versão é aclamada especialmente porque, apesar de ter sido filmada em estúdio, em Hollywwod, conseguiu recrear os Yorkshire Moors de Inglaterra e incluíu cenários com sombras e nevoeiros próprios da goticidade das obras bronteanas. No entanto, como já referi, é aniquilada uma grande parte da história e há situações que não estão de acordo com a trama original de Charlotte Bronte. Eu devia ter adivinhado isso quando me apercebi do Dr Rivers que visitava as meninas em Lowood porque não me lembro dessa personagem no livro; lembro-me sim do John St Rivers, o pároco que, juntamente com as suas duas irmãs, abrigou Jane depois de esta fugir de Thornfield Hall. Desta pequena alteração surgem outras, sendo que quando Jane foge, vai refugiar-se em casa da Tia Reed, procurando o colo de Bessie, a única empregada que a acarinhou na sua problemática infância em casa da tia. Portanto, não existe o tempo em que Jane vagueou perdida e sem tecto até ser acolhida pelos St Rivers; não existe o tio rico da Madeira que lhe deixa a sua fortuna, não existe o tempo em que Jane leccionou na sua própria escola, o pedido de casamento de John... Tudo isso foi suprimido desta adaptação.
No entanto, aquilo que mais desgostei nesta versão de 1943 foi definitivamente a interpretação de Orson Wells! O homem consegue tirar todo o encanto a Edward Rochester. E fico insegura quando vejo que o caracterizavam como "a magnificent figure of a man, over six feet tall, handsome, with flashing eyes and a gloriously resonant speaking-voice". Serei eu com os gostos trocados ou serão os tempos que são miraculosamente diferentes?! É que aquela 'resonant speaking voice' associada ao dramatismo exagerado do senhor, quase que me levava a deixar filme a meio. Joan Fountain definitivamente, e para mim, salvou o filme de se tornar um desastre. Ela e as outras personagens. Ah! Convém lembrar que uma Elizabeth Taylor muito jovem aparece aqui no papel de Helen Burns, a amiga de Jane na escola de Lowood, que vem a falecer, deixando a nossa heroína novamente desamparada e sem amigos. E temos ainda Adéle. Nunca gostei dela nas adaptações mais recentes, sempre melosa demais (como convém, eu sei). No entanto, esta tocou-me de maneira diferente. Gostei. Achei-a doce sem ser em excesso e bem mais controlada que as suas sucessoras mais recentes, tendo conseguido arrancar-me alguns sorrisos com a sua meiguice.