19
Jul 13

 

É definitivamente um dos melhores livros que li nos últimos tempos! Definitivamente.

 

Sempre receei embrenhar-me nos livros de Charles Dickens (até hoje li apenas dois contos), apesar da curiosidade ser mais que muita. A escassez de obras traduzidas em português foi-me adiando o desejo até ter descoberto esta bonita edição da Civilização Editora. E quando lhe peguei foi com alguma descrença e a sensação de que ia deixar o livro menos que a meio.

 

Enganei-me. E ainda bem. Desde o momento em que peguei na obra, passei longas horas da madrugada agarrada a ela. É espantosa a forma como a história me prendeu e entusiasmou, desde as suas personagens à forma tão caracteristicamente Dickensiana de escrever. A história está de tal forma bem elaborada e traçada que as situações envolvem-se, desarranjam-se e tornam-se a envolver sem que o leitor suspeite por um só momento que tal situação influenciará aquela outra. E depois há aquela sinopse; quase até ao final do livro, eu perguntava-me 'mas afinal aquele Sidney Carton pouco participa na ação do livro. Porque lhe foram dar tanta importância na sinopse?'. Só lendo. Sidney Carton é sim um dos elementos mais importantes da história, aquele que deveria ser identificado como o herói romântico, como a ovelha negra que se regenera. E fica sempre aquela dúvida ligada à sua incrível parecença com Charles Darnay. Mas essa foi a única situação que Dickens não usou para tornar a sua história mais interessante; ou melhor, usou mas de outra forma bem mais tranquilizadora para o leitor. Creio que, no fundo, Dickens temeu excitar demasiado esse leitor. A história que deixou já o faz de uma forma prazerosamente excessiva.

 

As personagens, essas são maravilhosamente Dickensianas e quem conhece adaptações televisivas/cinematográficas de Dickens, sabe que o seu mundo é único e descrito de uma maneira muito própria. É muito fácil nesta obra, 'vermos' os personagens a desenvolverem a história com trejeitos e dizeres tão tipicamente dickensianos. E destaco Jerry Cruncher que é hilário ou o cantoneiro (tornado mais tarde serralheiro) que são aqueles que mais me lembram o mundo deste escritor. Depois há Miss Pross que facilmente associo a Miss Dixon de North and South da colega de Dickens, Elizabeth Gaskell.

 

Depois vem a escrita de Charles Dickens. Única e soberba. Quando li os contos (Contos de Natal e os Sinos do Ano Novo), achei que ele escrevia de uma forma por vezes cantada (especialmente no segundo conto). Aqui continuo a ver passagens onde ele faz isso, mas de uma forma tão atrativa e tão precisa na história que acabamos por nem notar. E é preciso notar, mais uma vez, a forma como ele entrelaça as situações da história, sem que o leitor se aperceba sequer para onde está a ser levado.

 

Dei cinco estrelas no Goodreads! Porque não posso dar dez. Porque não me deixam dar vinte. Porque trinta seria pouco!

 

publicado por Sandra F. às 20:16

29
Jun 13

Primeiro livro de Charles Dickens que leio, apesar de conhecer quase todos os seus livros e ambicionar lê-los todos, só que em português. E como se sabe, em português e atualmente, poucos livros dele existem traduzidos.

 

 

Ora, este eu descobri por acidente em casa dos meus pais. E tinha sido meu, naquela altura em que eu não valorizava muito os grandes clássicos ingleses. Dos 'Contos de Natal' posso dizer que gostei muito e que, apesar de ter visto algumas adaptações televisivas ou cinematográficas da história, ler o conto é muito mais entusiasmante. É belo, mesmo! E realmente percebe-se como Dickens conseguiu tornar o Natal naquilo que é hoje, uma época mágica,de alegria e união.

 

Já 'The Chimes' ou ' Os sinos de ano novo' é diferente mas igualmente belo. A linguagem utilizada é soberba, como se fosse cantada e muito, muito ativa. Dá a sensação que estamos a assistir a um musical. É realmente um texto diferente, não de todo aprazível a qualquer um, mas que nos envolve no maravilhoso espírito dickensiano.

 

E ficou, mais do que nunca, uma vontade imensa de ler mais livros de Dickens.

publicado por Sandra F. às 17:59

12
Nov 12

Parece que a história de Cora Crawley, Condessa de Downton Abbey e esposa do Earl of Grantham, vai ter direito a uma série própria que será uma prequela de Downton Abbey, ou seja contará como Cora, uma americana rica, casou com o Duque de Grantham.

 

 

Aparentemente, esta era uma prática bastante usual no final do século XIX (1870 até final da I Grande Guerra), quando se assistiu à vinda de mulheres bonitas e ricas vindas da América para Inglaterra, em busca de um mebro da aristocracia britânica para desposar. Em troca do título aristocrático, estas mulheres ofereciam dinheiro americano, proveniente basicamente dos papás ricos e ainda herdeiros! Sim, herdeiros! Note-se que foi de uma relação destas que nasceu Winston Churchill. Essas mulheres eram as chamadas 'Dollar Princesses' e eu espero ardentemente que esse não seja o nome a ser dado a esta nova série!

 

 

O forte impacto destas mulheres na vida britânica, com uma aristocracia empobrecida devido a uma crise na agricultura, será focado certamente nesta prequela de Downton Abbey. Esta concentrar-se-á especialmente na fase de namoro do casal mas não deixará de focar esta influência das ricas herdeiras americanas.

 

 

De acordo com Melanie Stafford do American Museum in Britain em Bath:

 

'They came from a different culture and had a very different outlook on life. They were more forward than English women, who were expected to know their place and be seen and not heard. The American women were socially confident and competitive. If they had a view they’d make it known, so they could be very good company".

 

E acrescenta que:

 

"Soirees and musical evenings were held, where the women would be introduced to members of the aristocracy. It was all very hasty and this was like the speed-dating of its time, involving impoverished members of the English aristocracy and wealthy American heiresses. They were marriages of convenience, but you have to remember that there was much less emphasis on marrying for love in those days".

 

 

Julian Fellowes, o criador da série diz:

 

"I do have an idea of doing a prequel of the courtship between Robert and Cora. It is a fascinating time when the Buccaneers were coming to England and marrying (aristocrats)". E relembra que Cora estava apaixonada por Robert antes de casarem mas que ele demorou cerca de um ano a apaixonar-se por ela. Ele casou por dinheiro e sente uma certa culpa por isso.

 

Eu continuo a querer acreditar que a relação inicial de Cora e Robert nada teve a ver com isto e que sempre foi e é uma linda história de amor. Gosto muito deles e ia simplesmente adorar que esta prequela fosse mesmo avante, com a mesma qualidade e beleza de Downton Abbey. A melhor dupla de atores que vi sugerirem para o papel deste casal foi Jennifer Goodwin (que é fã de Downton Abbey) e (sossega, coração...) Michael Fassbender. Eu apoio totalmente!

 

 

 

publicado por Sandra F. às 21:37

09
Out 12

Não fazia ideia que a televisão italiana (RAI) tinha uma versão de Wuthering Heights. Que ótima notícia!

 

Porque é que, nós portugueses, não partilhámos destes gostos o suficiente para fazermos assim umas coisas?

 

Não sei se gosto muito daquele Heathcliff apesar do olhar intenso e apesar de me parecer uma boa interpretação. A atriz que interpreta Cathy, só neste bocadinho que vi, não me parece ter garra suficiente para interpretar a selvagem Catherine Earnshaw/Linton.

 

publicado por Sandra F. às 20:56

03
Out 12

A partir de hoje, 3 de Outubro, temos a oportunidade de adquirir a mini-série "Os Pilares da Terra" baseada na obra de Ken Follet.

 

Para quem não conhece, aconselha-se que vejam porque é muito boa, além de ser uma das grandes produções televisivas dos últimos tempos.

 

"Tendo como cenário a tumultuosa Inglaterra do século XII, Os Pilares da Terra conta uma história de amor, traição, intriga, mistério, violência, aventura... Estes são os ingredientes deste arrebatador épico que começa com a morte do herdeiro ao trono de Inglaterra. A luta pela sucessão começa e nobres e religiosos farão qualquer coisa tendo em vista um único objetivo: o poder. Neste ambiente cheio de invejas e falsas acusações, um homem sonha construir uma magnífica catedral, cheia de luz e repleta de novos elementos; Abre-se um novo caminho em direção a um futuro cheio de esperança".

(retirado da contracapa do dvd)

 

Conta com participações de atores como Donald Sutherland, Matthew MacFadyen, Rufus Sewell, Eddie Redmayne, Ian McShane e Hayley Atwell. A sua produção contou ainda com a participação dos conhecidos realizadores Tony e Ridley Scott

 

São 4 DVDs ao todo, cada um terá o custo de €5.95, e o 1º vem com a oferta da caixa arquivadora. Tem ainda oferta de 3 meses do canal TVSeries para quem é cliente Zon.

 

1º DVD:

  • CARAS – 03 de Outubro
  • VISÃO – 04 de Outubro
  • EXPRESSO – 06 de Outubro

2º DVD:

  • CARAS – 10 de Outubro
  • VISÃO – 11 de Outubro
  • EXPRESSO – 13 de Outubro

3º DVD:

  • CARAS – 17 de Outubro
  • VISÃO – 18 de Outubro
  • EXPRESSO – 20 de Outubro

4º DVD:

  • CARAS – 24 de Outubro
  • VISÃO – 25 de Outubro
  • EXPRESSO – 27 de Outubro 
publicado por Sandra F. às 09:18

11
Set 12
Thomas Hardy é um autor que aprecio muito, embora nunca tenha lido nenhuma obra sua. Nenhuma está traduzida para português e falta-me a coragem para me embrenhar nelas em inglês, dada a complexidade linguística muito ligada a um inglês 'antigo' e ruralizado.

 

Tenho no entanto visto algumas adaptações das suas obras para televisão. As mais conhecidas, entre muitas, figuram entre:

-Under the Greenwood Tree (1872) http://booksandmovies.blogs.sapo.pt/67143.html

-Far from a madding crowd (1874)

-Tess of the d'urbervilles (1891) http://booksandmovies.blogs.sapo.pt/8958.html

-Jude the obscure (1895)

 

 

Aqui há uns dias vi a adaptação de 1998 de Far from a madding crowd. Andava ansiosa para a ver já há algum tempo. No entanto, via pequenas partes e as imagens pareciam-se sempre tão escuras que isso me desanimava sistematicamente. Mas um dia, lá me decidi a ver. E, quando pensava que ia ver um filme com a duração normal dos filmes, 'suportei' aquilo por quase mais de três horas. Foi, todavia, um 'suportar' muito positivo, caso contrário teria deixado para outro dia. No final, queria mais! Foi uma tarde bem passada! E ficou curiosa para ler o livro. 

 

A história fala de uma mulher (Bathesba Everdene) por quem Gabriel Oak, um pastor, se apaixona e a quem pede casamento. Ela recusa pois não se descobre apaixonada por ele. Tempos depois, Bathesba fica rica ao descobrir que o seu tio lhe deixou a sua fazenda. Lá, começa uma nova vida, tentando provar aos seus empregados que, apesar de mulher, é capaz de administrar a fazenda. Entre os empregados surge Gabriel que, depois de perder a sua propriedade, vagueia sem emprego ou residência. Ela acaba por contratá-lo depois de ele evitar um incêndio grave num dos seus celeiros. 
Bathesba e Gabriel
 
Gabriel continua apaixonado por ela. Mas não se atreve a avançar novamente porque ele agora é um simples empregado e ela a sua patroa. Isto apesar de Bathesba ser daquelas patroas que não tem medo de sujar as mãos juntamente com os seus subalternos e, por isso mesmo, começa a ser admirada por todos. Com o decorrer da história aparece William Boldwood, um proprietário rico e solteiro, porém muito mais velho que ela, que por uma brincadeira no Dia dos Namorados acaba enamorado de Batsheba. Acaba também por pedi-la em casamento mas ela recusa, insegura mais por causa da idade dele. Pelo meio, temos ainda o sargento Francis Troy, um atraente soldado que regressa a casa e seduz Bathesba, com quem acaba por casar. Troy apesar de parecer um conquistador insensível que chega a destratar psicologicamente Bathesba, tem no entanto uma história desconhecida bonita e que vai terminar de forma trágica. Bathesba age honestamente e de acordo com a sua personalidade doce até ao fim, mesmo depois de ter sofrido às mãos do marido e das repercussões do seu passado.
 
Entre mais um ou outro pequeno pormenor importante, esta é mais ou menos a história de Far From a Madding Crowd. O que achei mais interessante foi o facto de Gabriel Oak assistir a todas estas vivências de Bathesba sempre na sombra, aconselhando-a ou repreendendo-a quando possível, e assistindo à sua fúria quando ela não estava de acordo com as ideias dele sobre o que se passava na sua vida. Claro que no fim, vence o amor... depois de algumas tragédias. Ficou-me no entanto uma questão à qual provavelmente só obterei resposta se ler o livro: teria Batsheba repudiado Gabriel por ele ser de uma condição social inferior ou apenas porque não aceitava o seu amor tão devoto e fiel?
 
Esta versão de 1998 é bonita apesar de não ter uma qualidade de imagem muito boa. Conta com as participações de Paloma Baeza (Batsheba Everdeen), Nathaniel Parker (Gabriel Oaks), Jonathan Firth (Francis Troy) e  Nigel Terry (William Boldwood). Há ainda uma versão de 1967 com a Julie Christie que não vi mas que dizem inferior a esta de 1998, apesar de ter estado nomeada para um óscar e outros prémios. 
 
Deixo um vídeo (com direito a música) que mostra algumas das cenas entre Bathesba e Gabriel.
 
   
publicado por Sandra F. às 19:35

22
Ago 12

12 de Novembro de 1865, foi a data da morte de Elizabeth Gaskell, a autora que expôs muitos dos dramas dos vários estratos sociais existentes no século XIX, na era vitoriana. As suas obras propiciaram não só o deleite de vários amantes da Literatura mas também o interesse de muitos historiadores sociais.

 

Em 25 de setembro de 2010, foi-lhe dedicado um memorial em Poet's Corner na Abadia de Westminster. O memorial tem a forma de um painel na janela do memorial Hubbard, acima do túmulo de Geoffrey Chaucer e foi dedicado pela sua trineta Rosemary Dabbs.

 

 Imagem retirada daqui

 

Do bico da sua pena, saíram contos e obras maravilhosas, uns mais mediáticos que outros, outros mais criticados que outros. São famosos até hoje. Provavelmente não no nosso país. Os mais conhecidos dos seus romances restantes são: Cranford (1853), North and South (1855), e Wives an Daughters (1865). E mesmo que a sua escrita esteja de acordo com as convenções vitorianas (incluindo assinar o seu nome "Mrs. Gaskell"), Gaskell normalmente emoldura as suas histórias com críticas de atitudes contemporâneas: as suas primeiras obras focaram o trabalho nas fábrica em Midlands. E sempre enfatizou o papel das mulheres, com narrativas complexas e dinâmicas personagens femininas.

 

BIBLIOGRAFIA DA AUTORA:

 

Romances

Novelas e coleções

Contos (parcial)

  • Libbie Marsh's Three Eras (1847)
  • Christmas Storms and Sunshine (1848)
  • The Squire's Story (1853)
  • Half a Life-time Ago (1855)
  • The Poor Clare (1856)
  • "The Manchester Marriage" (1858), um capítulo de A House to Let, co-autoria com Charles Dickens, Wilkie Collins e Adelaide Anne Procter.
  • The Haunted House (1859), co-autoria com Charles Dickens, Wilkie Collins, Adelaide Proctor, George Sala e Hesba Stretton.
  • The Half-brothers (1859)
  • The Grey Woman (1861)

Não ficção

 

Bibliografia para os três posts :

Wikipédia  #http://pt.wikipedia.org/wiki/Elizabeth_Gaskell

Books and Reviews #http://booksandreviews.wordpress.com/2012/03/25/mrs-gaskell-a-biography/

Brodie's Notes on Mrs Gaskell's North and South, Graham Handley, College of All Saints, Tottenham, MacMillan Press Ltd, 1988

                                Elizabeth Gaskell: 1851 retrato de George Richmond

publicado por Sandra F. às 22:49

20
Ago 12

A primeira experiência ligada à maternidade provou-se dramática para Elizabeth mas também foi a partir dessa experiência que nasceu a escritora. Na sua primeira gravidez, a criança do sexo feminino nasceu morta e, receosa que acontecesse novamente, na gravidez seguinte, ela iniciou um diário onde escrevia tudo o que se passava com ela e mais tarde com a sua primogénita Marianne, nascida em 1834. Em 1837, nasce Meta, a sua segunda filha e sobre essa época, Elizabeth escreve: "When I had little children, I do not think I could have written stories, because I should have become too much absorbed in my fictious people to attend to my real ones". Teria ainda uma outra filha, Flossy, nascida em 1842, e um filho, William, nascido em 1844 e falecido dez meses depois. Em 1846, nasce a última filha, Julia. Aquando da morte do seu filho William, foi o marido que a incentivou a recomeçar a escrever para se distrair e afastar o pensamento da tragédia. E assim começou a carreira desta escritora vitoriana.

 

As três filhas mais velhas de Elizabeth Gaskell (Marianne, Meta e Flossy)

Imagem retirada daqui daqui

 

Em 1837, morre a tia Lumb que lhe deixa uma pequena herança. Isso aliado à melhoria da situação financeira do marido, permite-lhe começar a viajar. Entretanto, começa a publicar textos anonimamente e depois sob o nome de Mrs Gaskell (ao contrário das suas companheiras Austen e as Bronte, mulheres solteironas e párias, Gaskell era uma senhora casada, com filhos e completamente inserida na sociedade, o que lhe trazia muito mais estatuto que às amigas, daí ter optado pelo nome de Mrs Gaskell). Passa a ir muitas vezes a Londres, sem a presença do marido que se mantém em Manchester, cultivando um estilo de vida diferente daquele que se espera de uma esposa vitoriana.

 

Torna-se então famosa e amiga de Charles Dickens. A sua primeira obra Mary Barton estabelece-a definitivamente como escritora apesar de criticada por retratar apenas um dos lados da revolução industrial e da depressão económica.Quando começa a publicar na revista Households Words de Charles Dickens, numa época em que a literatura é bastante consumida, torna-se numa referência para a faminta classe média com os seus textos seriados (excertos publicados com determinados espaço de tempo e que fazem parte de uma mesma história). Em 1850, já estabelecida na revista Households Words de Charles Dickens, compra uma casa, em Plymouth Grove, Manchester, para toda a família. Aí escreveu obras com North and South e Cranford.

 The Gaskell house at Plymouth Grove in Manchester (via Wikipédia)

 

É também em 1850 que conhece Charlotte bronte de quem se torna grande amiga e por quem sente uma grande compaixão. Sobre ela escreveria The life of Charlotte Bronte, a pedido da própria, e onde pretende honrar aos olhos do mundo a mulher que todos admiravam como escritora.  Contudo, a inserção de alguns factos incorrectos trouxeram alguns problemas a Gaskell que foram, no entanto remediados numa segunda edição desta obra, tornando-a num dos grandes clássicos de Elizabeth Gaskell e numa biografia soberba de Charlotte Bronte.

 

Sobre a sua relação com Charles Dickens, sabe-se de um mal-entendido passado por causa da obra Cranford. Elizabeth fez com que o fictional Capitão Brown fosse um apreciador da obra de Dickens The Pickwick Papers; no entanto, Dickens alterou essa parte da história sem o conhecimento de Gaskell, tornando a personagem apreciadora dos Hood's Poems. Gaskell não gostou da alteração, tendo ficado muito zangada e por isso Dickens desculpou-se, não querendo perder a amizade e o trabalho de Gaskell. No entanto, pouco mais tarde, ambos desentenderam-se novamente por causa da obra North and South, tendo Dickens mencionado que 'Mrs Gaskell showed a total disregard for the basic principles of serial publication, punctuality and regulation of lenght'. Apraz-me, contudo, saber da opinião de Mrs Gaskell sobre North and South (que, não fosse o desagrado de Dickens, se chamaria Margareth Hale) que, após a série de publicações, escreveu 'I meant it to have been so much better'. No entanto, foi a pressa de publicação de Dickens aliada à falta de profissionalismo demonstrado por Gaskell em edições anteriores desta obra, que originou o final tão apressado e quase forçado.

 

Ruth, uma história que foca problemas morais, sociais e sexuais da sociedade de então, é publicado em 1853, recheado de situações melodramáticas. Apresenta-nos a história de uma mãe solteira e a hipocrisia daqueles que se julgam religiosos e a quem falta compaixão, humildade e caridade cristã. Obviamente que este livro gerou um tumulto social muito grande mas Mrs Gaskell sabia no que se tinha metido e a coragem para escrever esta obra continuava expressa numa carta que escreveu a uma cunhada: 'Of course it is a prohibited book in this, as in many other households... but I have spoken out my mind in the best way I can, and I have no doubt that what was meant so correctly must do some good'.

 

Em Roma, Elizabeth Gaskell conhece Charles Eliot Norton, um estudante de História da Arte, dezasseis anos mais jovem que ela e ambos se sentem imediatamente atraídos um pelo outro. Dela, ele afirmava '...like the best things in her books; full of generous and tender sympathies, of thougtful kindness, of pleasant humor, of quick appreciation, of utmost simplicity and truthfulness...' Esta amizade permaneceu sem que invadisse a vida de casada de Elizabeth ou a sua devoção ao marido e à família.

 

O último trabalho de Elizabeth Gaskell, Wives and Daughters estava a um capítulo do seu final quando ela faleceu,em Novembro de 1865, vítima de insuficiência cardíaca, nos braços da filha Meta, na casa que comprara secretamente em Alton, Hampshire, com a secreta intenção de convencer William, o marido, a deixar Manchester e a retirarem-se para Londres na sua velhice. A típica senhora vitoriana com uma atípica vida vitoriana, morreu longe do seu marido, que num mesmo dia soube não só do seu falecimento como da existência da nova casa. Crê-se que, com esta última obra, Mrs Gaskell tenha atingido um alto nível de maturidade artística. Conta a história de Molly Gibson, filha do médico da aldeia, numa brilhante, evocativa e irónica imagem da vida provinciana e da depois segunda mulher do seu pai, Mrs Kirkpatrick, uma mulher fina, vaidosa, egoísta, superficial e doida.

 

The Gaskell Grave, Brook St Chapel, Knutsford

Imagem retirada daqui

 

Destaca-se que, aparte o seu estilo de vida pouco convincente socialmente, Elizabeth Gaskell contribuíu significativamente para a Literatura Inglesa, tendo sido subestimada e esquecida ao longo dos tempos. Escreveu maioritariamente sobre as mulheres da sociedade vitoriana e de como viviam em perigo de se tornarem párias. Contudo, apesar de tão importantes temas, Mrs Gaskell não é incluída em currículos de Literatura e não é famosa como devia ser.

 

Continua.....

publicado por Sandra F. às 19:30

19
Ago 12

"Sometimes, the life of authors is key to understand their works"

Elena, Blog Books and reviews #http://booksandreviews.wordpress.com

 

Quem me conhece nestas andanças bloguistas sabe que sou uma apreciadora feroz de North and South da escritora britânica Elizabeth Gaskell, seja da obra em si, seja da adaptação de 2004 da BBC. As outras obras desta autora, nunca li, mas a sua leitura está seguramente nos meus planos futuros, mesmo que em inglês, dado que no nosso belo Portugal não se fazem traduções desta autora ou outras semelhantes, vá-se lá saber porquê! 

                                                    Crédito da imagem: aqui

Assim sendo, e porque esta senhora merece o seu reconhecimento, mesmo que póstumo, como uma das grandes escritoras da era vitoriana, segue um breve texto sobre aquilo que foi a vida de Elizabeth Gaskell e ainda como nasceram as suas obras. É impressionante a vida dura que levou e a forma como ultrapassou tudo, sobretudo através da escrita. Far-se-à também uma breve conexão da sua vida com as suas obras, ou seja como situações que viveu influenciaram a trama das suas histórias.

 

Elizabeth Gaskell nasceu Elizabeth Stevenson em Chelsea, Londres, a 29 de Setembro de 1810, filha de um Curador do Tesouro que também tinha o gosto pela escrita mas que em nada influenciou Elizabeth como escritora. A sua mãe, Catherine, morreu passado um ano do nascimento da escritora  e depois de ter visto seis dos seus oito filhos morrerem por doença. Ficaram então a encargo do seu devastadado pai, Elizabeth e o seu irmão John. Contudo, pouco tempo depois Elizabeth foi mandada para o norte de Inglaterra, para a cidade de Knutsford, perto de Manchester, para viver com a sua tia Hannah Lumb, irmã da mãe, que a criou com amor e afeição genuínas. Sobre ela, Elizabeth escreveria mais tarde: "Oh! There will never be one like her". Manteve, contudo, uma relação próxima com o irmão que partiu em 1828 para a Índia, não tendo mais voltado a Inglaterra.

 Retrato miniatura de Elizabeth Gaskell em 1832 realizado por William John Thomson (in Wikipédia) 

 

Em 1814, o seu pai tornou a casar mas não manifestou intenção de ficar com Elizabeth. Ela permaneceu então em Knutsford onde foi encorajada a ler os Clássicos, tendo frequentado  a escola de Misses Byerley's em Warwickshire, onde a disciplina era firme mas afectuosa e com uma importante componente literária. A autora abandonou a escola aos dezasseis anos, em 1827, e  existem poucas informações sobre a sua vida após este período. O pai morre em 1829. Sem fortuna, praticamente orfã e longe da capital e dos grandes círculos sociais, as possibilidades de um futuro promissor estavam quase vedadas a Elizabeth. No entanto, em 1831 conhece o professor William Gaskell com quem casa em Knutsford em 1832. Ambos mudam para Manchester, onde William lecionava e começam a sua vida e a sua família.

 

 Knutsford antes da chegada das ferrovias

 Crédito da imagem: aqui

 

Similaridades da sua vida com as suas obras:

  • O seu pai abandonou o Ministério antes de casar, tal como Mr Hale em North and South.
  • O facto de se ter mudado da urbana Londres para Knutsford, no norte de Inglaterra, pode ter influenciado a criação da obra North and South.
  • Knutsford é usualmente comparada com Cranford, cidade fictícia imortalizada na obra com o mesmo nome.
  • A ida definitiva do seu irmão John para a índia assemelha-se à ida do irmão de Matilda Jenkins, igualmente para a índia, em Cranford. Salienta-se que na obra, Peter Jenkins regressou passados muitos anos, por intermédio de uma amiga de Matilda, o que podia expressar o desejo de Elizabeth Gaskell em rever o seu irmão. O amor fraternal prejudicado por circunstâncias da vida pode ainda ser visto em North and South (Margareth e Frederick Hale).
  • A capela em Brook Street onde a autora passou grande parte do seu tempo, na sua infância em Knutsford, é amplamente descrita no capítulo 14 da obra Ruth.
  • Muitas outras similaridades podiam aqui ser focadas. No entanto, como não li todas as obras de Elizabeth Gaskell, não sou a pessoa certa para o fazer. Todavia, tenho a certeza que muitas das suas histórias e tramas se baseam nesta sua vida que se revelou tão preenchida, difícil e interessante.

 Continua....

publicado por Sandra F. às 19:29

17
Ago 12

Jane Eyre de Charlotte Bronte é possivelmente uma das grandes histórias da literatura britânica clássica que mais aprecio. Isso é indubitável desde há algum tempo a esta parte. Ler a obra é um prazer e é inevitável não me condoer com a jovem Jane Eyre ou então com o coração terrivelmente amargurado de Edward Rochester e com o estranho mas profundo sentimento que nasce entre estes dois seres.

 

No que respeita às adaptações televisivas ou cinematográficas, confesso que adoro as duas últimas realizadas. A televisiva (série) de 2006 com Toby Stephens e Ruth Wilson é maravilhosa e a mais fiel à obra original; a cinematográfica de 2011 é igualmente bela apesar de mais curta. Pessoalmente, e atendendo à que mais rápido me toca o coração, gosto da última. Acho a Jane Eyre da Mia Wasikowska muito boa, tendo ela um ar mesmo 'plain, obscure and little'. Já Michael Fassbender, que apesar de charmoso não acho bonito (e é assim que imagino o Edward Rochester da obra original), faz um Mr Rochester perfeito, deixando transparecer nas feições a tortura e a amargura de um homem que se crê já perdido para o mundo e para a felicidade.

             

Não vi mais nenhuma adaptação de Jane Eyre, que me lembre. Em criança, consolei-me de ver filmes antigos com a minha mãe aos sábados e domingos à tarde (RTP1, claro) e é muito provável que tenha visto adaptações de alguns dos clássicos que hoje adoro. Sei que vi a versão com o William Hurt como Rochester há muito tempo atrás mas, nessa altura, ainda não conhecia a obra nem a sua autora; lembro-me, no entanto, que fiquei apaixonada pela história e recordei durante muito tempo aquele final debaixo de frondosas árvores. Actualmente, tenho as adaptações quase todas (falta-me a de 1936) de Jane Eyre e hoje, finalmente, lá me decidi a ver a de 1943 com o Orson Wells e a Joan Fontaine. Pois foram quase duas horas agradáveis, ao contrário do que tinha imaginado. Apesar da excessiva mas usual teatrialidade dos actores, principalmente do Orson Wells, vê-se muito bem. É uma pena, contudo, que a obra original tenha sido tremendamente adulterada. 

De acordo com a Wikipédia, esta versão é aclamada especialmente porque, apesar de ter sido filmada em estúdio, em Hollywwod, conseguiu recrear os Yorkshire Moors de Inglaterra e incluíu cenários com sombras e nevoeiros próprios da goticidade das obras bronteanas. No entanto, como já referi, é aniquilada uma grande parte da história e há situações que não estão de acordo com a trama original de Charlotte Bronte. Eu devia ter adivinhado isso quando me apercebi do Dr Rivers que visitava as meninas em Lowood porque não me lembro dessa personagem no livro; lembro-me sim do John St Rivers, o pároco que, juntamente com as suas duas irmãs, abrigou Jane depois de esta fugir de Thornfield Hall. Desta pequena alteração surgem outras, sendo que quando Jane foge, vai refugiar-se em casa da Tia Reed, procurando o colo de Bessie, a única empregada que a acarinhou na sua problemática infância em casa da tia. Portanto, não existe o tempo em que Jane vagueou perdida e sem tecto até ser acolhida pelos St Rivers; não existe o tio rico da Madeira que lhe deixa a sua fortuna, não existe o tempo em que Jane leccionou na sua própria escola, o pedido de casamento de John... Tudo isso foi suprimido desta adaptação.

No entanto, aquilo que mais desgostei nesta versão de 1943 foi definitivamente a interpretação de Orson Wells! O homem consegue tirar todo o encanto a Edward Rochester. E fico insegura quando vejo que o caracterizavam como "a magnificent figure of a man, over six feet tall, handsome, with flashing eyes and a gloriously resonant speaking-voice". Serei eu com os gostos trocados ou serão os tempos que são miraculosamente diferentes?! É que aquela 'resonant speaking voice' associada ao dramatismo exagerado do senhor, quase que me levava a deixar filme a meio. Joan Fountain definitivamente, e para mim, salvou o filme de se tornar um desastre. Ela e as outras personagens. Ah! Convém lembrar que uma Elizabeth Taylor muito jovem aparece aqui no papel de Helen Burns, a amiga de Jane na escola de Lowood, que vem a falecer, deixando a nossa heroína novamente desamparada e sem amigos. E temos ainda Adéle. Nunca gostei dela nas adaptações mais recentes, sempre melosa demais (como convém, eu sei). No entanto, esta tocou-me de maneira diferente. Gostei. Achei-a doce sem ser em excesso e bem mais controlada que as suas sucessoras mais recentes, tendo conseguido arrancar-me alguns sorrisos com a sua meiguice.

publicado por Sandra F. às 23:16

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